Maju na bancada do JN: comemoração ou atraso escancarado?

Maria Júlia Coutinho Portes, mulher negra, filha de pais militantes do movimento negro sempre conviveu com o racismo em sua vida. Entretanto hoje é uma das jornalistas mais bem sucedidas do Brasil.

“Maju” se formou na faculdade Cásper Líbero. Começou sua carreira na TV Cultura no ano de 2005. Em 2007 iniciou sua trajetória na Rede Globo como repórter, em 2013 passou a ser eventualmente a titular do posto de apresentadora de meteorologia no Jornal Hoje, Jornal Nacional, Bom Dia Brasil e Hora Um da Notícia. Em 2015, finalmente assumiu o cargo de apresentadora meteorológica permanente do Jornal Nacional. Por dois anos consecutivos (2015 e 2016) ganhou o premio de “Melhor Garota do Tempo” no Troféu Observatório da Televisão. E em 16 de fevereiro de 2019 será a primeira mulher negra a apresentar o Jornal Nacional.

O racismo estrutural fez com que apenas quase cinquenta anos depois da primeira edição do Jornal Nacional a primeira mulher negra assumisse a bancada como âncora. Esse fato é um marco histórico para o jornalismo brasileiro, tendo em vista que o Jornal Nacional é o telejornal mais importante da maior emissora do país.

A representatividade da população negra na mídia é de sinuosa importância, principalmente na televisão, visto que a “TV” é o meio de comunicação mais acessível do Brasil segundo dados da “Pesquisa Brasileira de Mídia 2016 – Hábitos de Consumo de Mídia pela População Brasileira”, divulgada pela Secretaria de Comunicação Social do governo. Há uma grande problemática em programas de “TV”, publicidades e propagandas, em que as pessoas negras são representadas de forma a reforçar estereótipos construídos pela branquitude. Como o exemplo do estereótipo da “Tia preta”, aquela mulher negra já idosa ou mais velha, geralmente de pele retinta, que é “dócil” e sempre está em cena para servir. Esses estereótipos precisam ser desconstruídos e passar a mostrar os negros em posições sociais ditas “brancas” pela sociedade racista.

As pessoas negras se enxergarem em espaços ditos “brancos” é uma quebra de padrões eurocêntricos e aos poucos, por meio das pressões exercidas pelo movimento negros e afins, os meios de comunicação estão se atentando para dar lugar às pessoas negras em papeis de destaque, quebrando estereótipos racistas presentes dentro dos próprios meios de comunicação. Entretanto, esse reconhecimento por parte das mídias só foi possível através de muitas lutas que ocorreram no passado, e ainda ocorrem.

É um marco Maria Julia Coutinho ser a primeira mulher negra a assumir a bancada do JN, mas a jornalista só ocupará esse espaço em dias de folga dos apresentadores brancos, William Bonner e Renata Vasconcelos. Maju continua em segundo plano, mas até quando isso? Quanto tempo levará para uma mulher negra ser âncora permanente do Jornal Nacional? Precisamos saber quanto tempo levará para que o protagonismo seja integral, demonstrando todo merecimento e competência que pessoas negras possuem, e não por mera conveniência em estar em dia com as pressões externas.

É imprescindível levarmos em consideração que apenas após 50 anos de existência do telejornal a primeira mulher negra sobre aquela bancada. Tal dado escracho o abismo imposto para qualquer ascensão permitida as pessoas de cor.

Precisamos continuar lutando por representatividade de pessoas negras na grande mídia, pois essa representatividade ainda está sendo dada em migalhas!

Por Maria Iasmin

maju

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